Marc Steinberg – Anime’s Media Mix

Foi em 2012 que Marc Steinberg, professor-associado de estudos de cinema na Universidade Concórdia, publicou seu livro Anime’s Media Mix: Franchising Toys and Characters in Japan.

Tal como o título sugere, trata-se de uma exploração do conceito de media mix, essa tão comum prática de tornar uma propriedade em toda uma franquia, a tal ponto que a linha que divide produto de promoção vai se esfacelando. É o anime um produto em si mesmo, ou apenas uma propaganda para o mangá que adapta? É cada vez mais difícil dizer.

Steinberg vem aqui argumentar sobre a centralidade do personagem para a media mix. Protagonizando o mangá, anime, livro e videogame, com seu rosto estampado em roupas, materiais escolares e brinquedos, e tendo mesmo suas próprias estatuetas, é o personagem que dá lastro à media mix, conectando mídias – e narrativas – das mais diversas.

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Étienne Barral – Otaku: Os Filhos do Virtual

Foi em 1999 que Étiene Barral, jornalista francês residindo no Japão, publicou seu livro Otaku: Les enfants du virtuel. No ano seguinte o livro chegaria ao Brasil baixo o título Otaku: Os Filhos do Virtual, pela editora SENAC, com tradução de Maria Teresa Van Acker.

Uma interessante exploração da cultura japonesa às vésperas da virada do milênio, o foco na figura do otaku justifica-se na tese que Barral busca defender: a de que o otaku, enquanto necessariamente apartado da sociedade, pode por isso mesmo expor as contradições subjacentes a essa mesma sociedade. Eles seriam, portanto, um sintoma de um mal estar muito mais profundo, capaz mesmo de gerar consequências bem mais desastrosas do que apenas alguns aficionados por figures e mangás.

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Saito Tamaki – Beautiful Fighting Girl

Foi no ano de 2000 que o psicologo japonês Saito Tamaki publicou seu livro Sento Bishojo no Seishinbunseki, que chegaria ao ocidente onze anos depois baixo o título Beautiful Fighting Girl. Essencialmente uma análise (mesmo uma defesa) da sexualidade do otaku, aqui o autor parte da figura da “Bela Garota que Luta” – essas garotas adolescentes e pré adolescente, dotadas de habilidade de combate e de uma capacidade intrínseca de incitar o desejo sexual daquele que a vê – para tecer considerações sobre a distinção entre realidade e ficção, o (então) atual ambiente midiático, além de uma série de outras questões, tudo isso enquanto se pautando sobretudo nas ideias do psicanalista francês Jacques Lacan.

Lançado em inglês pela editora da Universidade de Minessota, com tradução de J. Keith Vincent e Dawn Lawson, o livro já chegou a ser bastante criticado pela sua excessiva, mesmo exclusiva, atenção às experiências de otaku homens heterossexuais, apenas brevemente reconhecendo a existência de otaku mulheres e nem isso para aqueles que fujam à heteronormatividade (gays, trans, etc.) [1]. Nesse sentido, ele acaba sendo um trabalho bem mais restrito em escopo do que seu autor provavelmente intencionava. Ainda assim, a simples influência que o livro teve, como um dos trabalhos pioneiros sobre o otaku, mais que justifica dar uma olhada no que Saito tinha a dizer.

Quem desejar adquirir uma cópia do livro, ele está disponível para compra pela Amazon brasileira, tanto na forma física como na de e-book. Alternativamente, uma prévia do livro pode ser visualizada pelo Google Books.

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Roland Kelts – Japanamerica

Japanamerica // Livro 22/12/2017 // 1Uma característica curiosa de Japanamerica: How Japanese Pop Culture Has Invaded the US, é que o livro lê muito como um documentário. Lançado em 2006 por Roland Kelts, já na introdução o autor explica como as principais fontes de seu livro foram as entrevistas que ele realizou entre 2003 e 2006, tendo falando desde com amigos próximos – tanto nos Estados Unidos como no Japão – até representantes e diretores de alguns dos mais importantes estúdios da indústria dos animes, fora toda sorte de indivíduos “no meio”: acadêmicos, editores, empreendedores, e a lista segue. Mas enquanto o grosso da publicação dá voz a estas diferentes pessoas, é o argumento central de Kelts que as conecta de uma forma coesa: a ideia de que o Japão, ou mais precisamente facetas da cultura japonesa, estaria agora invadindo os Estados Unidos, seja na forma de um sushi bar em cada esquina, seja na forma do anime e mangá.  Porquê, e ainda mais importante, porque agora, é a pergunta que o autor tenta responder ao longo do livro, destrinchando aqui a complexa relação que existe entre Japão e Estados Unidos – nos mais diversos níveis possíveis.

Como de costume nesse tipo de artigo, é importante frisar aqui que não é minha intenção fazer uma resenha ou análise crítica do livro, mas sim apenas resumi-lo de forma a retraçar a lógica e a argumentação de seu autor: um pequeno esforço de trazer essas discussões para um público um pouco mais amplo. É preciso adicionar, porém, um segundo aviso: que não cometamos anacronismos ao ler estes argumentos. O livro é de 2006, e 11 anos separam a nós de sua publicação: obviamente muito mudou no cenário do anime e mangá nesse meio tempo. Nesse sentido, o livro talvez seja melhor compreendido como um espelho de seu tempo, menos do que como uma teoria atemporal ou preditiva. Finalmente, qualquer interessado em adquirir uma cópia deste livro pode fazê-lo pela Amazon. Além dessa opção, uma prévia do livro também pode ser visualizada pelo Google Books, embora obviamente com páginas faltando. E terminados os avisos, vamos então ao resumo.

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Hiroki Azuma – Otaku: Japan’s Database Animals

Otaku Japans Database Animals Livro 28 10 2017 1Lançado originalmente no Japão em 2001, Dobutsuka-suru Postmodern: Otaku Kara Mita Nihon Shakai é uma exploração da pós-modernidade através de uma análise da subcultura otaku. Escrito por Hiroki Azuma, o livro aplica conceitos como o “simulacro”, do sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard, e a “animalização”, do filósofo francês Alexandre Kojève, ao que seu autor delimita como sendo a “cultura otaku”. Através desse exercício, Azuma procura entender a humanidade da era pós-moderna, chegando a conclusões tão assertivas quanto fascinantes. Vale dizer, no entanto, que o livro foi escrito com o específico intento de ser acessível ao grande público, de forma que seu autor muito bem explica cada termo e teoria necessários para entender a sua argumentação. Em 2009, o livro recebeu a sua primeira tradução para o inglês pelas mãos de Jonathan E. Abel e Shion Kono. Essa versão, rebatizada como Otaku: Japan’s Database Animals, pode ser encontrada tanto para importação pela Amazon, quanto para leitura online pelo Google Books.

Agora, é importante também deixar claras as intenções deste texto. Longe de fazer uma análise, crítica ou resenha do livro de Azuma (algo que não julgo ter a expertise necessária para fazer), minha intenção aqui é tão somente a de tecer um breve resumo das principais ideias presentes em Otaku: Japan’s Database Animals, motivo pelo eu peço ao leitor para que não espere ver muito das minhas opiniões pessoais aqui. Meu intento com o texto é sobretudo trazer talvez um pouco das discussões levantadas no livro para o público otaku brasileiro, e portanto fica então o meu convite a que o leitor reflita e opine a vontade sobre as ideias aqui apresentadas.

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Mark W. MacWilliams (org.) – Japanese Visual Culture

Japanese Visual Culture Livro 15 09 2017 1Lançado em 2008 pela editora americana M. E. Sharpe, Japanese Visual Culture: Explorations in the World of Manga and Anime é uma coletânea de 14 ensaios organizada por Mark W. MacWilliams. O livro abre com algumas palavras de Frederik L. Schodt (autor, dentre outros livros, do importante Manga! Manga! The World of Japanese Comics, de 1983) e segue com uma introdução escrita pelo seu editor, antes de entrar efetivamente nos ensaios que compõem o grosso do livro. Para compra, é possível adquirir um exemplar pela Amazon. Já para leitura online, o livro está disponível para visualização prévia no Google Books.

Agora, idealmente falando seria ótimo se eu pudesse explanar com a devida profundidade cada um desses ensaios, mas para não tornar esse texto excessivamente longo eu pretendo trazer aqui apenas uma visão geral de cada um deles, me focando nos pontos centrais que cada autor levanta em seu texto. A proposta desse meu artigo é menos a de uma resenha ou análise do livro – algo que eu julgo não ter a expertise necessária para o fazer com propriedade – e mais a de, em parte, divulgação desse tipo de material e, mais importante, das discussões levantadas por esses autores. Por conta disso, não esperem ver muito da minha opinião pessoal neste texto, e eu deixo para o leitor o julgamento quanto à validade ou não dos pontos apresentados.

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