[Resultados] Pesquisa Com Otakus

Kino no Tabi // Pesquisa 31/08/2016 // 1
Kino aleatória porque sim

Na semana que foi do dia 15 ao dia 19 de agosto agora (2016), eu e alguns outros membros da Blogosfera Otaku BR decidimos levar a cabo uma pesquisa para tentar melhor entender o público otaku, sobretudo o público otaku tal como ele se configura no facebook (talvez a maior plataforma atual para divulgação de blogs e canais num geral, otakus incluso). Assim, nós organizamos um formulário contendo 16 questões em assuntos como idade, gênero, se acessa canais ou blogs de animes com frequência, e por ai vai, e distribuímos o formulário em vários grupos voltados para o anime e mangá no facebook, grupos estes com uma margem de membros que variava de mil a vinte mil indivíduos, com pelo menos um deles passando dos 50 mil. Ao final da pesquisa, 1161 formulários foram respondidos.

Da elaboração do formulário e distribuição deste participaram o Kouichi Sakakibara, do Animes Tebane; o Vinícius Marino, do Finis Geekis; o Fábio, do Anime 21; e o Cat Ulthar, do Dissidência Pop; além, obviamente, deste que vos fala. E o resultado bruto da pesquisa, em números apenas, já foi inclusive publicado na Otakusfera, o nosso grupo lá no facebook, mas achei que valia a pena fazer um artigo aqui no blog inclusive como forma de expor estes dados para mais pessoas, especialmente outros produtores de conteúdo do meio que possam vir a se beneficiar deles.

Abaixo, o texto foi estruturado em três partes, primeiro expondo alguns dos problemas e ressalvas da pesquisa, depois trazendo os dados brutos e adicionando alguns comentários meus que achei pertinente, e por último algumas considerações finais a respeito de toda a pesquisa.

1) Algumas ressalvas:

Antes de efetivamente olharmos os resultados, eu acho importante deixar claro que a pesquisa teve os seus problemas. Ok, que a pesquisa teve muitos problemas, e isso tanto de ordem da própria natureza da pesquisa tal como ela foi feita – e eu já explico melhor isso – quanto de ordem puramente tecnológica.

Começando com a última, o fato do formulário ter sido publicado majoritariamente em grupos no facebook certamente restringiu o seu alcance. Obviamente, isso implica que os resultados não podem realmente falar por outras redes sociais (reddityoutube, etc.) ou espaços da internet (fóruns, por exemplo), mas esse é o menor dos problemas (até porque, convenhamos, muitos – se não a maioria – dos que frequentam estes espaços também estão no facebook). O maior deles vem justamente de um alcance internamente limitado.

Por exemplo, todos sabemos como o facebook prioriza imagens sobre qualquer outra forma de conteúdo, então o alcance de um link certamente seria reduzido. Além disso, aparentemente a rede social não gosta de quando um usuário posta em muitos grupos, pois após algum tempo muitos dos formulários postados estavam sendo apagados automaticamente, por vezes menos de um minuto depois de postados. Isso significa que tivemos de fazer mais de uma “leva” de postagens em alguns grupos, inclusive com outro membro da blogosfera (o Kouichi, no caso), só para que a pesquisa ficasse no ar por mais tempo.

Mas os maiores problemas surgem da própria natureza da pesquisa. Sendo uma pesquisa quantitativa, e não qualitativa, ela se preocupa mais com a quantia de respostas recebidas do que com a qualidade destas. E nesse quesito nós não tínhamos qualquer controle destas respostas. As pessoas foram honestas? Responderam apenas uma vez? Infelizmente, não temos como saber, e só podemos confiar nas pessoas que responderam.

Mas em defesa dos dados, eu diria que eles se mostraram o mais consistentes que poderiam ser. Como nós acompanhamos o avançar dos números, em torno das 500 respostas nós percebemos que estes estagnaram em uma configuração que se manteve essencialmente inalterada até o resultado final, com 1161 respostas. O importante a ter em mente, porém, é que eles são um reflexo, no máximo, dos membros mais ativos dos maiores grupos de anime, mangá e cultura pop japonesa no facebook, e qualquer tentativa de generalizá-los para todo o público otaku que exista seria problemático no mínimo.

E feitas essas ressalvas, vamos então prosseguir.

2) Os resultados (com comentários):

Gráfico // Pesquisa 31/08/2016 // 2

Como eu disse, para essa parte eu vou mostrar os resultados brutos da pesquisa, adicionando alguns comentários levemente mais analíticos. Começando então, temos justamente a primeira pergunta, que dizia respeito ao gênero dos indivíduos. E aqui o resultado foi, sinceramente, dentro do esperado. Todas as 1161 pessoas responderam esta pergunta (natural, dado que era uma das obrigatórias), e o resultado foi 911 votos (78,5%) para homens, 237 (20,4%) para mulheres e 13 (1,1%) em “outros”.

Caso você tenha curiosidade, destes 13 “outros”, 1 respondeu “queergender“, 1 respondeu “menina”, e todos os demais 11 foram pura e simples zoeira, incluindo nisso respostas como “Panda Vermelho”, “Robô Intergalático”, “Otaku” (oi?), e 3 “Unicórnios” (que, ao contrário do que o tumblr possa te fazer acreditar, não é um gênero!). Ainda assim, para ser bastante sincero, 11 respostas zombeteiras dentre 1161 foi absurdamente menos do que eu esperava, e foi bom ver que a vasta maioria parece ter levado a pesquisa relativamente a sério.

Mas voltando aos dados em si, como eu disse eles estão dentro do esperado, com um público masculino obviamente majoritário. Agora, enquanto é tentador usar disso para argumentar que o público feminino é decisivamente menor em todo o meio otaku, vamos lembrar das limitações da pesquisa e de como ela só foi divulgada nos maiores grupos otaku do facebook. É plenamente possível que a maioria das mulheres que fazem parte do meio otaku simplesmente não frequentem esses grupos, que são de fato, é válido dizer, espaços bem pouco convidativos ao público feminino num geral. Infelizmente, isso é apenas especulação, e não temos como provar uma hipótese dessas. Ainda assim, é importante ter isso em mente antes de tirar conclusões demasiado apressadas.

Gráfico // Pesquisa 31/08/2016 // 3

Avançando, idade foi a segunda pergunta, e aqui o resultado foi honestamente surpreendente. Das 1158 pessoas que responderam (em nota: no formulário esta era uma pergunta obrigatória, então não tenho ideia de que bug foi esse que permitiu 3 pessoas enviarem sem responder a questão), apenas 6 pessoas (0,5%) se colocaram como menores de 10 anos, o que pode ter relação com o fato do facebook exigir uma idade mínima de 13 anos para entrar nele. Claro, é apenas uma conjectura, e o fato da faixa seguinte, 11 aos 13 anos, ter conseguido 153 respostas (13,2%) certamente traz problemas a ela, mas motivos de lado o interessante aqui é a mostragem que menores de 13 anos são minoria absoluta, ao menos dentre os que responderam as perguntas.

O dado seguinte é bastante problemático, desta vez por culpa minha de fato. Ao fazer o formulário, eu me descuidei e coloquei como opções “14 aos 18 anos” e “18 aos 24 anos”. Obviamente, isso faz com que o número 18 apareça em ambas, o que pode ter confundido algumas pessoas. Infelizmente, quando notamos o erro 107 pessoas (9,2%) já haviam respondido “14 a 18”. Mas para ser bastante sincero, é estatisticamente improvável que todos os que responderam tivessem exatamente 18 anos, e me parece sensato assumir que no mínimo a vastíssima maioria deveria ter de 17 para baixo. Assim, eu incluiria esse dado junto ao seguinte.

A opção “14 a 17” foi incluída justamente ao notarmos o erro, e substituiu a opção anterior, “14 a 18”. E nela responderam 337 pessoas, (32,6%). Se de fato “jogarmos” nela os dados da anterior, essa faixa se torna a maioria, com 41,8% dos votos. Mas o interessante aqui é que a faixa seguinte, 18 a 24, está bastante próxima: 440 votos (38%). Mais de 25 recebeu 75 votos (6,5%), e num total os dados indicam uma divisão surpreendentemente igualitária entre menores e maiores de idade.

Isso até que faz bastante sentido, parando para pensar na história dos animes aqui no Brasil. Com um começo insipiente na década de 80 e um efetivo “boom” que vai de meados dos anos 90 até meados dos anos 2000, a partir de quando os animes foram rapidamente decaindo em termos de entrada legal no país, termos uma população otaku majoritariamente entre os 14 e 24 anos é possivelmente um reflexo desse histórico.

Gráfico // Pesquisa 31/08/2016 4

O dado seguinte não tem muito o que espremer, honestamente. Das 1161 respostas, 691 (59,5%) disseram consumir mais animes, 332 (28,6%) disseram consumir ambos por igual, e apenas 138 (11,9%) afirmaram consumir mais mangá.

É fato que, no ocidente, os animes serviram como “carro chefe” da cultura pop japonesa, e ainda hoje eles seguem como tal. Talvez inclusive por serem a opção mais barata, dado que mesmo serviços de streaming oficiais, como Crynchyroll e Daisuke, oferecem a sua biblioteca gratuitamente. Mangá, por outro lado, precisa ser entendido como artigo de luxo, ao menos o mercado oficial. Com cada volume podendo custar entre R$13,00 e R$18,00 em média, com coleções que variam entre 2 a dezenas de volumes, é pouco provável que alguém tivesse o dinheiro necessário para consumir mais mangás do que animes (uma situação curiosamente oposta ao Japão, eu apontaria, onde as revistas de mangá tornam eles bem mais acessíveis ao público em geral do que os caríssimos blue rays de dois episódios de algum anime).

Gráfico // Pesquisa 31/08/2016 5

Em termos de apreço por esta ou aquela demografia, o resultado foi majoritariamente dentro do previsto. Das 1161 respostas, 473 (40,7%) disseram não ter qualquer preferência, que foi o resultado mais levemente espantoso aqui. Os demais, porém, são exatamente o que se esperaria.

Com 341 votos (29,4%), o shounen foi a demografia mais votada. Vamos lembrar por um segundo que, segundo as respostas anteriores, o público que respondeu a pesquisa é um público majoritariamente masculino dos 14 aos 24 anos de idade: grosso modo exatamente a demografia alvo do shounen.

Curiosamente, shoujoseinen ficaram incrivelmente próximos, o primeiro angariando 172 votos (14,8%), e o segundo 161 (13,9%). Não há muito o que comentar aqui, e eu acho bem mais interessante o dado seguinte: josei recebeu apenas 14 votos (1,2%). O que não é tanto uma surpresa quanto uma confirmação de algo que a maioria já deve ter notado. É muito raro encontrarmos discussões sobre alguma obra josei no meio otaku, algo que inclusive comentei brevemente em um texto anterior. Claro, possivelmente uma das razões disto é o fato de que é raro termos qualquer anime ou mangá josei vindo para o Brasil, com o recente mangá lançado pela Panini, The Wedding Eve, sendo possivelmente um dos pouquíssimos exemplares do tipo em terras nacionais.

Gráfico // Pesquisa 31/08/2016 6

Da questão 5 não tenho realmente muito o que comentar. Novamente uma questão que todos (1161) responderam, foi uma das poucas que possibilitavam múltiplas seleções. Aqui, “Ação” (812 votos – 69,9%), “Aventura” (789 votos – 68%) e “Comédia” (772 votos – 66,5%) se mostraram os favoritos em absoluto, o que pode estar relacionado ao fato de que a demografia mais votada foi o shounen, considerando que todos estes três gêneros aparecem em mangás do tipo. Fora isso, único dado que apontaria é que “Ecchi”, enquanto ainda angariando 1/3 dos votos (399 votos – 34,4%), ainda ficou em último lugar, o que foi ligeiramente surpreendente.

Gráfico // Pesquisa 31/08/2016 // 7

As perguntas 6 e 7 trouxeram alguns resultados interessantes. Primeiro, na pergunta 6, respondida em todos os 1161 formulários, 960 (82,7%) disseram acessar canais ou blogs de animes na internet, com apenas 201 (17,3%) respondendo o contrário. Foi um resultado honestamente surpreendente, mas que foi imediatamente seguido por um mais esperado:

Gráfico// Pesquisa 31/08/2016 8

A sétima pergunta trouxe uma daquelas anomalias tão comuns a pesquisas feitas sem qualquer controle real. A pergunta era especificamente direcionada àqueles que disseram frequentar canais ou blogs de anime: 960 segundo a pergunta anterior. Ainda assim, tivemos 979 respostas, o que indica 19 pessoas ligeiramente perdidas. Tirando isso, porém, o resultado foi, como eu disse, dentro do esperado: 659 votos (67,3%) – a absoluta maioria – para canais no youtube, contra 320 (32,7%) para blogs.

Honestamente, eu acho quase intuitivo que uma plataforma áudio-visual seja mais frequentada, especialmente levando em conta a parte “áudio”: é comum as pessoas colocarem um vídeo para tocar e irem fazer alguma outra coisa, o que é praticamente impossível com textos escritos. No acelerado mundo em que vivemos, o formato do youtube parece mesmo responder melhor aos anseios modernos, e se isso é algo bom ou ruim eu deixo para o leitor pensar por si mesmo. Em todo caso, é inegável: o youtube veio para ficar, ao menos por algum tempo.

Gráfico // Pesquisa 31/08/2016 // 9

Em toda honestidade, a 8ª pergunta trouxe talvez a maior surpresa em toda a pesquisa, ao menos para mim. Mais uma pergunta que possibilitava selecionar mais de uma opção, eu esperava dela o exato oposto do que recebemos.

Com a maioria dos blogs e portais de animes sendo voltados para notícias, e os canais mais famosos sendo voltados para algum tipo de listicle (tops, por exemplo), eu honestamente esperava estes dois ficaram em primeiro. Estes, porém, ficaram bem mais para trás, com podem ver na imagem. Em contraste, reviews ganharam o primeiro lugar, com 723 votos (65,4%). Curiosidades em segundo, porém, foi bem mais esperado.

Mas ao passarmos para as perguntas 9, 10 e 11, a situação foi no mínimo curiosa.

Agora, nas questões 9 e 10, nós fizemos uma listagem com os blogs e canais talvez de maior renome no meio otaku, pedindo aos participantes da pesquisa que votassem em quais eles conheciam. A ênfase na palavra é justamente para contrastar com a pergunta 11, que perguntava para a pessoa quais dos que ela votou na 9 e na 10 ela acessava com alguma regularidade.

Já de início a disparidade de respostas foi um fato interessante. Todas as 3 perguntas eram opcionais, e receberam respectivamente 980, 998 e 601 respostas. Agora, eu não mostro as imagens dos resultados aqui por uma questão puramente pessoal: eu não me sinto confortável divulgando esses dados sem a permissão expressa dos donos dos blogs mencionados. Isso dito, gostando ou não os dados destas três perguntas estão acessível na planilha, e a planilha foi divulgada na íntegra lá no grupo da otakusfera, então se alguém tiver muita curiosidade pode ir lá olhar. Mesmo assim, aqui eu evitarei de divulgar.

Mas voltando, como vimos, há ai uma disparidade óbvia, na qual a pergunta 11 recebeu quase 1/3 a menos de respostas que as anteriores. Isso por si só já é um indício exatamente do que esperávamos encontrar: conhecer não significa acessar ou gostar. Mas o resultado mais surpreendente veio quando eu decidi fazer a contagem cruzada das menções na pergunta 11: enquanto os votos nas perguntas 9 e 10 chegavam às centenas, as menções aos exatos mesmos blogs e canais na pergunta 11 mal passava das dezenas. E, vale dizer, nem sempre se manteve ai uma proporção, e blogs e canais altamente votados nas perguntas 9 e 10 podiam cair para 2, 3 ou mais posições na hora de contabilizar as menções (e vice-versa: um blog pouco votado na 9ª e 10ª pergunta podia se mostrar mais mencionado na 11ª).

Mas o mais interessante está no conteúdo desses canais e blogs. Se prendendo especialmente às menções feitas na pergunta 11, sites e portais bem mais focados em notícias mostraram uma tendência a cair posições, enquanto que sites mais sincréticos, que além de notícias apresentam também análises e outros conteúdos, mostraram uma tendência a ser mais mencionados. Até aqui a coisa vai mais ou menos conforme mostrado no item 8, mas ao entrarmos em canais tudo vira uma enorme incógnita.

Então, vamos lembrar que, segundo a pergunta 7, a vasta maioria das pessoas que responderam acessar canais e blogs com frequência, acessam justamente canais. E que, segundo a pergunta 8, o conteúdo mais buscado é o de análises e curiosidades. Porém, enquanto os canais mais conhecidos parecem refletir isso, com canais mais focados em listas e notícias vindo um pouco atrás daqueles com conteúdo mais diverso, ao olharmos as menções a coisa completamente se inverte. Notícias ainda parecem fazer o canal cair um pouco, mas aqueles com foco em listas mostram justamente uma tendência a aumentar posições. O conteúdo menos votado na pergunta 8 é o mais visto na pergunta 11. Oi?

Tudo bem que os números são inconclusivos no mínimo e completamente descartáveis no máximo. Como eu disse, todas as demais perguntas (no caso, 8, 9 e 10) possuem respostas na ordem de centenas, enquanto que a 11ª as respostas só ficam nas dezenas, então é bem difícil assumir que os resultados dos últimos podem falar pelos primeiros. Mesmo assim, foi algo no mínimo curioso.

Gráfico // Pesquisa 31/08/2016 10

Quanto à 12ª pergunta não tem realmente muito o que comentar. Essa era outra pergunta obrigatória, e por isso recebeu 1161 respostas, sendo que a esmagadora maioria (1092 votos – 94,1%) votou em que o sexo do/a blogueiro/a ou vloger não tem qualquer importância para ela na hora de consumir o conteúdo. Dos demais, 38 pessoas (3,3%) disseram preferir homens falando, enquanto que 31 (2,7%) preferem mulheres. O que fazer com essa informação eu deixo que cada um considere por si (e se descobrir favor me avisar [rsrsrs])

Gráfico // Pesquisa 31/08/2016 11

A décima-terceira pergunta possuía as seguintes opções, seguindo de cima para baixo conforme aparece na imagem: 1) “tem pouco ou nada do conteúdo que me interessa”; 2) “tem conteúdo que acho ofensivo”; 3) “tem conteúdo com o qual não concordo”; 4) “são pouco aprofundados (conteúdo muito raso)”; 5) “são muito aprofundados (conteúdo muito difícil ou cansativo de entender)”; 6) “só falam de animes/mangás muito populares”; 7) “só falam de animes/mangás muito desconhecidos”.

Não sendo obrigatória e permitindo às pessoas votarem em mais de uma opção, ela teve 803 respostas, e como podem ver “só falam de animes/mangás muito populares” foi a maior reclamação em absoluto. Em segundo ficou o pouco aprofundamento, e em terceiro temos a ausência de conteúdo que interesse.

Nesses três, me parece tentador considerar ao menos duas possibilidades. Em primeiro lugar, eu lembraria a todos que, segundo a nossa pergunta 2, a maioria dos que responderam o formulário é de adolescentes e jovens adultos, então a reclamação de conteúdo pouco aprofundado pode refletir uma fanbase que, conforme vai envelhecendo, vai também desejando um conteúdo um pouco mais complexo do que desejava até então. Já a segunda hipótese que levanto diz respeito ao que ocupou o terceiro lugar na lista de reclamações: a ausência de conteúdo interessante. Se lembrarmos que na pergunta 8 os conteúdos menos votados foram notícias e listas, e que os blogs e canais mais conhecidos parecem justamente ser aqueles que possuem esse tipo de conteúdo, me parece tentador traçar uma relação entre estes três fatores. Infelizmente, é tudo especulação, então não tomem a minha palavra como certeza.

Finalmente, o que ocupa o primeiro lugar não é realmente nada de muito surpreendente. Como eu comentei em um artigo anterior, o overexposure é um problema bastante presente nos meios otakus atuais, e é normal as pessoas se cansarem de algo ao que estão constantemente expostas.

Gráfico // Pesquisa 31/08/2016 1/2

Honestamente, de novo não muito o que comentar. Dado que essa foi uma pesquisa realizada majoritariamente em grupos no facebook, a vasta maioria dos votos (1.038 – 89,4%) foi de pessoas que frequentam grupos, enquanto que apenas 115 (9,9%) afirmam não o fazer. Claro, é tentador considerar esses 115 “nãos” como zombaria, mas eu não iria tão longe. Vamos lembrar que estar em um grupo no facebook é bem diferente de frequentá-lo, fora que se a pessoa tiver levado o plural a ferro e fogo ela pode ter votado “não” por frequentar a um grupo só, e não vários.

As 8 pessoas (0,7%) que responderam não ter facebook, porém, ai sim parece ter sido apenas zoeira. Especialmente considerando que o Panda Vemelho e um dos Unicórnios votaram nessa opção.

Gráfico // Pesquisa 31/08/2016 13

Última pergunta a permitir múltiplas respostas, e também a última não obrigatória. As respostas possíveis eram bem semelhantes às da pergunta 13, e ficaram assim: 1) “tem pouco ou nada do conteúdo que me interessa”; 2) “tem conteúdo que acho ofensivo”; 3) “tem conteúdo com o qual não concordo”; 4) “não geram discussões interessantes”; 5) “a comunidade que os frequenta é tóxica”; 6) “só falam de animes/mangás muito populares”; 7) “só falam de animes/mangás muito desconhecidos”.

Das 846 respostas, a principal reclamação, como podem ver na figura, foi a de que os grupos não geram discussões interessantes, “curiosamente” seguida de perto com a reclamação de que só falam de animes populares. Não há muito o que discutir aqui: quem frequenta os grupos sabe que a vasta maioria das postagens são conteúdos como “destes 6 personagens ultra populares, qual o melhor?” ou “Naruto vence Goku: sim ou claro?”, além de coisas como “jogo do add: comente ‘eu’ e quem curtir você adiciona”. Quando esse é o padrão, as duas principais reclamações me soam quase como óbvias. Ainda assim, curioso o fato que, apesar delas, conteúdo que não gera discussão embasado em animes populares segue sendo o principal tipo de conteúdo produzido e divulgado nos grupos otaku.

Um paradoxo que talvez se explique por uma espécie de sensação de impotência, de querer iniciar uma discussão mais desenvolvida, mas sentir que o público ali não participará. Ou talvez seja bem mais simples, e esta seja a reclamação de apenas uma parcela completamente minoritária. Digo, das 1161 pessoas que responderam ao formulário, apenas 381 votaram querer mais discussões interessantes, e todas as demais reclamações ficaram abaixo dessa marca. Talvez a maioria realmente esteja satisfeita com os grupos tal como eles estão, afinal. Ainda assim, 846 pessoas tiveram alguma reclamação a fazer, então é difícil dizer qual é a realidade aqui, honestamente.

Gráfico // Pesquisa 31/08/2016 // 14

A última pergunta da enquete foi também obrigatória, recebendo 1161 respostas. E curiosamente foi bem mais uniforme do que o esperado. A absoluta maioria (693 votos – 59,7%) disseram ser a favor da pirataria apenas quando a obra não poderia ser conseguida legalmente em território nacional, o que reflete talvez o maior argumento a favor da pirataria: o de que ela reflete um problema de distribuição, no qual o indivíduo deseja a posse de um produto, mas não pode consegui-lo legalmente.

Em contraste, 224 pessoas (19,3%) se mostraram plenamente a favor da pirataria, ao passo que 150 pessoas (12,9%) se mostraram plenamente contra. Dos 94 (8,1%) que votaram “outros”, as respostas variaram: alguns se mostraram a favor, mas justificaram de alguma forma (normalmente mencionando a falta de dinheiro ou a impossibilidade de acesso legalizado aos produtos), já outros preferiram não se posicionar ou mostraram não ter uma opinião formada ainda.

Agora, existe aqui também a possibilidade de que as pessoas tenham se sentido compelidas a responder a alternativa mais “politicamente correta”? Existir até existe, mas como o que recebeu mais votos foi a alternativa “a favor, mas…” e não a alternativa “contra”, eu me colocaria como cético a uma interpretação do tipo. Em todo caso, no final parece haver um consenso de que a pirataria é, na melhor da hipóteses, ainda um mal necessário.

3) Comentários finais.

Eu vou tentar não me estender muito aqui, até pelo tamanho que já ficou o texto, mas eu queria dedicar algumas palavras para uma espécie de “e agora?” após todos esses dados. Isso porque, a bem de toda a verdade, eu apenas arranhei a superfície aqui, e há muito mais que pode ser visto nos dados coletados.

Um dos nossos planos originais era o de tentar análises cruzadas dos resultados. Por exemplo, em quais demografias as mulheres mais votaram? Maiores de 18 anos veem mais canais no youtube ou blogs? Existiria alguma correlação entre idade e apoio ou não à pirataria? As críticas aos blogs e grupos no facebook feitas pelas mulheres eram as mesmas feitas pelos homens? No início, esperávamos poder responder estas e muitas outras perguntas.

Infelizmente, esse projeto se provou uma tarefa muito mais difícil de se realizar do que parecia, por vários motivos, e no fim eu decidi fazer este texto sem entrar nessas questões apenas para publicar algo referente a essa pesquisa. Isso significa que abandonamos completamente a ideia de tentar cruzar os dados? Bom… Digamos que ela não é uma prioridade para o momento. Mas é como eu disse, a planilha original com todas as respostas pode ser vista no grupo da otakusfera, então se alguém com o conhecimento e ferramentas necessários quiser tentar cruzar os dados, sinta-se a vontade para entrar lá e tentar.

Ainda assim, no final acho que a pesquisa conseguiu traçar um quadro relativamente consistente da configuração atual dos maiores grupos otaku no facebook, o que pode ser interessante especialmente para aqueles blogueiros e vlogueiros que publiquem nesses grupos.

Visite também: Facebook – Twitter – Youtube

Outros artigos que podem lhe interessar:

Ontem e Hoje: A História do Anime e Mangá no Brasil (Parte 1) e (Parte 2)

Objetividade na Análise de Animes – Parte 1 e Parte 2

Imagem: Kino no Tabi, episódio 11.

Um comentário sobre “[Resultados] Pesquisa Com Otakus

  1. Alguns comentários sobre a nossa pesquisa:

    Na questão da demografia eu não excluiria a possibilidade de muita gente confundir obras josei com shoujo ou mesmo com seinen. E também não se pode ignorar o dado estatístico óbvio: a imensa maioria é homem e a maioria prefere assistir animes, os quais frequentemente não tem demografia definida (animes originais ou baseados em outro material que não mangá). Além disso, tem sido cada vez mais comum que joseis (e mesmo shoujos) sejam adaptados para doramas ao invés de animes. Se fizermos uma pesquisa focada em doramas, ao invés dessa que favoreceu animes, provavelmente o resultado será bem diverso.

    Sobre os gêneros preferidos, repito aqui algo que disse enquanto conversávamos sobre os resultados: mesmo que a pesquisa seja anônima, mesmo sem um pesquisador te encarando, as pessoas podem se sentir constrangidas ao dar determinadas respostas. Ecchi é um caso desses. Quem gosta sabe que é algo ligeiramente inapropriado.

    Nas questões texto vs. vídeo, eu acho que boa parte disso tem a ver com a massificação dos smartphones e o crescimento do acesso mobile. Acho que já te disse isso também, enfim, queria apenas deixar isso registrado aqui.

    A questão sobre conteúdo deve ter sofrido pelo menos parcialmente do mesmo efeito da questão sobre gêneros: quem prefere conteúdo frívolo se envergonha disso. Mas há outro dado importante em questões de múltipla escolha: não é porque resenha ficou em primeiro que a maioria prefira resenha. Pode ser apenas a melhor segunda ou terceira opção de todo mundo. E vale ser mencionado também que listas são um subtipo de curiosidade, essa divisão pode ter confundido as pessoas que responderam o formulário e interferido no resultado. Isso pode explicar seu espanto quanto ao domínio absoluto de canais que publicam curiosidades/listas: some os dois e ficarão quilômetros a frente do segundo colocado (claro que não se pode fazer isso, pesquisa feita é pesquisa feita, não podemos moldar seus resultados depois de colhê-los, isso é apenas uma autocrítica).

    A 12 pode ser um caso ainda mais grave de não querer passar vergonha na resposta. Ou pode não significar nada mesmo.

    É isso aí, bom artigo. Um dia ainda damos um tapa nesses dados o//

    Curtir

Deixe um comentário