(Esta análise foi originalmente publicada na página do blog no facebook)
Tonari no Seki-kun é um anime curto (cerca de 7 minutos por episódio) lançado em 2014, com 21 episódios. E a sua história – mais o seu setting, na verdade – é a de uma garota, Rumi, que é constantemente distraída da aula pelo seu vizinho de carteira, Seki.
Agora, o interessante aqui é que o próprio Seki tem bem pouca culpa nessa distração da Rumi: ele quase nunca interage com a garota. Contudo, Seki sempre passa a aula brincando, ao invés de estudar, e é isso que distrai a menina: ela fica observando as brincadeiras que seu vizinho inventa. E honestamente: quem poderia culpa-la?!
Com cada episódio trazendo uma brincadeira diferente, o escopo de esquisitices que o Seki faz certamente não é baixo. De peças de Go (popularmente conhecido como “xadrez japonês”) formando bichinhos fofos a se enfrentar em uma luta mortal, passando por robôs agindo como uma família feliz (mais interessada nos estudos que o próprio Seki!), e até gatinhos vivos (!), acho que em algum ponto qualquer um se distrairia tendo Seki ao seu lado [rs].
Mas subjacente a todas essas brincadeiras do Seki, existe aqui um conceito que eu acho que vale a pena explorar: a ideia de uma criatividade que nasce justamente da subversão das regras.
Explicando, já a princípio Seki ignora a mais importante regra do ambiente no qual está: ele simplesmente ignora as aulas e os estudos para ficar brincando em sala de aula. Dentro do contexto do anime, onde só vemos o dia a dia dos dois – Rumi e Seki – na sala de aula, temos que a criatividade do garoto só pode aflorar pela subversão da norma.
Mas as brincadeiras em si do Seki também não seguem regras. Em fato, o anime inteiro é embasado na ideia de quebra de expectativa, tão cara à própria comédia em um geral. Em suma: não importa o brinquedo que o Seki traga, ele nunca brinca com ele da forma tradicional.
Inteiras narrativas são produzidas a partir de peças de jogos de estratégia. Mesmo o simples ato de passar bilhetinhos é convertido em um verdadeiro sistema de correios, com direitos a formulários e uma caixa postal em plena sala de aula (!!). E tampouco convenções de gênero se aplicam ao garoto, capaz de tricotar o mais fofinhos dos cactos (!!!) ou de, como mencionei, fazer robôs agirem como uma família.
A quebra de expectativas surge da quebra das regras, e o personagem não se prende a absolutamente nenhuma, exceto aquelas que ele próprio cria a cada brincadeira. Uma criatividade, portanto, que surge da anarquia, do não seguimento das regras impostas, seja pelos meios sociais (a escola), seja pelos próprios brinquedos que, afinal, são apenas a base material que dá vazão à imaginação do menino.
Tonari no Seki-kun é, honestamente, divertidíssimo, e possivelmente um dos melhores animes curtos que já assisti. E grande parte disso só é possível por essa imprevisibilidade do anime, que se recusa a se atar a qualquer regra, deixando a criatividade do Seki – e, por consequência, do roteirista [rs] – voar solta para os mais estranhos – e divertidos – recantos.
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Imagens: Tonari no Seki-kun, episódio 1