Café com Anime – Shoujo Kageki Revue Starlight, episódio 7


Nossa conversa semanal sobre animes da temporada


E aqui começa mais um Café com Anime, agora para comentarmos o sétimo episódio de Shoujo Kageki Revue Starlight. E como de costume, a mim aqui se juntam o Vinicius Marino, do Finisgeekis, o Fábio “Mexicano”, do Anime21, e o Gato de Ulthar, do Dissidência Pop, para discutirmos nossas impressões e opiniões sobre o título.

Fica aqui a dica para irem também conferir os demais blogs participantes, pois cada um servirá de host à discussão de um anime. No Finisgeekis, vocês conferem nossas conversas sobre Happy Sugar Life; no Anime21 aquelas de Banana Fish, e no Dissidência Pop teremos aquelas referentes à Hanebado. E dados os avisos de sempre, vamos então à conversa. Peguem uma xícara do seu líquido favorito, sentem-se confortavelmente, e vamos em frente.


Diego:

Minha. Nossa. O_O Ta… Olá a todos e bem vindos a mais um Café com Anime de Shoujo Kageki Revue Starlight, agora para o sétimo – e potencialmente melhor – episódio da série!

Desde o começo do Café nós temos comentado sobre a Banana, e sobre como ela sempre parecia… diferente. Algo nela simplesmente não “clicava”, mas acho que nenhum de nós esperava o que foi mostrado nesse episódio. Primeiro: Banana não é só boa, ela é a melhor da sala de longe. E segundo: é ela quem está mantendo toda a academia em um looping temporal, sempre recriando o “palco” que ela tanto adorou: o primeiro Starlight delas.

Mas eis que após repetir a mesma performance por tanto tempo que nem a Girafa sabe quantas vezes já fizeram isso, a Hikari aparece. No looping anterior. Para então aparecer na sala como a aluna transferida que vimos no primeiro episódio. WOW.

Uma sequência de twists, um excelente desenvolvimento para a personagem da Banana, fora que a direção nesse episódio foi simplesmente excelente, com várias cenas trazendo um imagético bem impactante. Embora não tenhamos tido uma música (nem na ending, diga-se de passagem, que foi apenas instrumental) eu consideraria esse talvez o melhor episódio do anime até aqui. Mas e vocês, o que acharam?


Gato de Ulthar:

ESSE FOI O MELHOR EPISÓDIO DE SHOUJO KAGEKI REVUE STARLIGHT DISPARADO!

O bagulho foi alucinante!

Quando Shoujo Kageki Revue Starlight encontra Puella Magi Madoka Magika!

E não é que havia algo “místico” mesmo nas audições? Não são somente simbolismos para conflitos adolescentes, há algo de muito sério acontecendo que está distorcendo o tecido da realidade. A Banana é realmente aquilo que dizíamos, algo grandioso e magnânimo, a grande déspota temporal do anime, superior a todas em habilidade, e campeã invicta do Revue.

Eu já estava contente com o fato do anime parecer apenas um coming-of-age com bastante simbolismos, mas ele surpreendeu neste momento, de uma maneira muito positiva, já que curto muito uma história deste tipo.

Aventuras temporais bem trabalhadas são sempre bem-vindas!

Estou ansioso para o próximo episódio!


Vinicius Marino:

Justamente pela semelhança com Madoka, que o Gato bem apontou, eu fiquei menos impressionado que vocês.

O “twist-Madoka” já está virando uma cena cult nos animes. Starlight Revue não foi sequer a primeira série a reutilizá-lo. Charlotte, o anime favorito do Diego, fez a mesma coisa. Aposto que o Fábio que assiste de tudo é capaz de nos dar mais exemplos.

Não que tenha algo de errado com isso. Mas Madoka foi de 2011. E digamos que não foram poucos os animes que já tentaram surfar na sua onda. Não é exatamente uma novidade.

Agora, preciso conceder que esse foi o primeiro episódio que trouxe alguma coisa sólida de conteúdo. Aquele discurso da Banana no final do capítulo foi tão sincero e poderoso que me sinto na obrigação de citá-lo aqui na íntegra:

Amigas preciosas, um palco precioso, dias tão preciosos, todos repetidos. Quando eu estou nessas performances repetidas, nada me apavora. Não precisamos crescer nem nos tornar adultas. O sofrimento que é forçado a você, a dor de tentar coisas novas, a tristeza de desistir porque dói demais… eu vou proteger todo mundo de tudo isso!

É a típica mentalidade de escapismo que movimenta toda a indústria de anime. A ideia de que a adolescência é o ápice da vida e devemos nos proteger do universo adulto, com suas mazelas, preocupações e contas para pagar. E, de uma forma mais geral, é o velho tema da perda da inocência que marca espaço na arte desde o Antigo Testamento.

Well played, Starlight.


Fábio “Mexicano”:

Ou, alternativamente, talvez seja só mais uma forma de contar o coming of age :stuck_out_tongue:

Quer um conflito mais limítrofe entre a infância e a vida adulta do que não querer envelhecer, não querer seguir em frente, ao invés querer continuar para sempre naquela escola com aquelas amigas com as quais você foi tão feliz? Eu sei que nem todo mundo é particularmente feliz no ensino médio, mas aposto que todo mundo que é feliz tem um sentimento nostálgico e, nem que não seja a sério, pensa como seria legal voltar exatamente àquela época. Não só reencontrar aquelas pessoas, mas reviver aquilo tudo mesmo. Eu não sei como foram as escolas de vocês, mas aposto que viram em algum final de ano as garotas da turma chorando e trocando camisetas assinadas pelo resto da sala.

É nesse sentimento que a Banana está presa. O que é brilhante demais para ela é o futuro. Ninguém pode evitar o futuro, porém. Bom, a não ser que você seja a melhor atriz em uma escola de teatro japonesa em um anime que tem uma girafa falante e um torneio subterrâneo secreto para escolher a Top Star.

Claro, é uma forma criativa de contar um coming of age, usando muito bem os elementos fantásticos do anime ao invés de contar apenas mais uma história escolar. Estávamos contentes que Starlight pudesse se tornar apenas um anime muito bonito e com músicas legais, mas agora ele está seriamente concorrendo para entrar em um seleto grupo que tem maravilhas como FLCL, Space Patrol Luluco e Flip Flappers.


Vinicius Marino:

Acho que estamos falando da mesma coisa, não? :blush:

Dito isso, só quero frisar que isso não é necessariamente sinônimo de coming of age. Há coming of ages que olham “para a frente” tal como há aqueles que olham “para trás”.

Um exemplo (de muitos) são histórias que lidam com o despertar sexual (coisa que animes não-hentai raramente abordam). Não importa quão legal seja beber suquinho de laranja e fazer muffins para suas amiguinhas. Dificilmente será mais legal que transar. E não importa quanto você tenha transado na escola, isto será apenas o introito de todas as experiências que viverá na vida. A primeira transa é importante porque é a primeira de muitas, não por ser o ápice da realização de uma pessoa.

Eu poderia até fazer uma relação entre isso e o mito da “perda da inocência” (como fez Philip Pullman no seu genial Fronteiras do Universo). Mas, para não fugir do tema, citarei apenas outro anime que aborda o mesmo assunto pelo lado oposto: Okusama wa Mahou Shoujo ou Bewitched Agnes

Para quem não conhece, a série é uma fábula sobre uma garota mágica “velha” (27 anos) que reluta em largar o osso. O problema é que ser uma mahou shoujo implica que ela seja virgem. A partir do momento em que se relacionar com alguém, seus poderes desaparecem.

A protagonista está dividida em duas versões diferentes de um “mundo ideal”. A primeira é a utopia da sua eu-criança, em que ela pode fazer tudo e não precisa crescer nem trabalhar, mas tampouco curtir os prazeres do mundo adulto. A segunda é a utopia da sua eu-crescida, refém do acaso e das pressões sociais, mas onde tem a liberdade para exercitar sua sexualidade, tomar suas próprias decisões e tornar-se, de fato, mulher.

Esses dois “mundos” são representados pelo coming of age. Mas os animes pendem desmesuradamente para o primeiro, e Starlight não é exceção.


Fábio “Mexicano”:

Concordo. Inclusive, acho que é o caso mesmo em alguns animes mais engraçadinhos que inserem metáforas sexuais (como FLCL). É muito raro um anime tratar disso seriamente. Starlight mesmo poderia fazer isso, com suas garotas todas já convenientemente divididas em pares, mas no Japão, pelo menos na cultura popular, parece que lesbianismo é “coisa passageira” de colegial. Por isso nunca levei muito a sério toda a paixão da Mahiru pela Karen, por exemplo.


Diego:

Tem um ensaio bem interessante no que se refere ao lesbianismo no anime e mangá: “Situating the Shoujo in Shoujo Manga: Teenager Girls, Romance Comics, and Contemporary Japanese Culture”, de Deborah Shamoon e incluso no livro “Japanese Visual Culture” [resumo]. Aqui ela menciona que no começo do século XX, um período no qual as escolas ainda eram segmentadas por gênero, relacionamentos entre meninas eram vistos como normais e parte natural da juventude, uma forma das garotas experimentarem o relacionamento amoroso sem precisar incluir ai o contato com o gênero oposto antes do que seria visto como apropriado. Esse era o pensamento que transpirava nas revistas shoujo da época, com várias histórias de amor entre garotas, e que aparentemente segue ainda hoje.

Mas voltando ao caso específico de Starlight, e aproveitando que já estamos falando dos temas do anime, vocês sentiram que houve ai uma certa mudança temática na série? O episódio 1 havia dado a impressão de que seria uma história sobre o combate ao status quo, enquanto que este agora deixou bem mais implícito o tema do crescimento. Eu cheguei a ver alguns tentando conciliar as duas abordagens dizendo que esse episódio consolidou a Banana como a real representação do status quo, e que postando acabar com a sua ilusão de uma eterna juventude será também abacar com o status quo. Mas o que vocês pensam disso?


Gato de Ulthar:

Acho que o foco saiu do que cogitávamos ser no início, uma crítica ao próprio show business. Depois passou a aparentar um coming of age onde o místico servia apenas como uma alegoria do crescimento e amadurecimento das garotas. Neste último episódio, consolidou-se os planos da Banana, e considero sim que ela seja uma representação do “status quo”, não da sociedade em si, mas do próprio sonho da juventude, transformando essa fase da vida em uma utopia eterna, onde sempre serão jovens e felizes, recriando eternamente aquele fatídico ano. Banana seria uma espécie de Peter-pan, lutando contra o amadurecimento ao tentar congelar um período específico de tempo da vida de todas.


Fábio “Mexicano”:

Eu nunca “peguei” esse espírito de “crítica” tanto quanto vocês. Achei que a Karen queria “inovar” um pouco, mas nada demais – e no fundo, era mais uma história sobre amadurecimento de todo modo. Quero dizer, depois de duas temporadas de Rakugo Shinjuu é difícil esperar que um anime realmente retrate o rompimento com a tradição artística. No Japão é tão absurdamente difícil mudar só um pouquinho…

E não finjam que no começo vocês não esperavam algo ainda mais revolucionário, literalmente estilo Utena :stuck_out_tongue:


Gato de Ulthar:

Sim, eu esperava! E por isso fiquei contente com este episódio, não foi bem o que eu imaginava, mas…


Vinicius Marino:

Eu esperava… e isso me deixava aflito, pois as ações da protagonista iam no sentido oposto. Estava até começando a desgostar da série por hipocrisia. Fiquei feliz em ver que o anime achou seu caminho enfim


Diego:

Pois é, eu já tinha comentado que pelo andar da carruagem o anime se dirigia para uma espécie de “revolução pela metade”, onde você substitui o sistema de uma só top star por um de duas (a Karen e a Hikari).

Mas isso me levanta a pergunta: será a Banana a “antagonista final” do anime? Ela é claramente a mais talentosa, a mais habilidosa, e aquela que melhor poliu suas habilidades em ano após ano de loopings temporais. Derrotá-la não será de forma nenhuma uma tarefa fácil, mas será que levará todo o anime? Ou será que seu dilema quanto a crescer será encerrado no próximo episódio? Fazem alguma aposta?


Fábio “Mexicano”:

Talvez seja mesmo impossível derrota-la com talento. Ao mesmo tempo, ela não parece uma inimiga ou adversária sequer. No momento, ela parece determinada a incluir a Hikari em seu loop infinito, de forma a manter seu mundo perfeito em que ela e suas amigas estão eternamente encenando o Starlight. Talvez ela tenha passado para roteirista justamente para isso, para incluir a Hikari. De todo modo, agora é mais fácil entender porque ela resistiu à ideia de ter Karen e Hikari como protagonistas: ela quer a peça original literalmente, na qual as protagonistas foram Maya e Claudine.

Ela parece ter chegado a essa decisão para evitar a dor do futuro. Ao mesmo tempo, ela parece ignorar completamente que a dor não está apenas no futuro, mas começou lá já no passado: as garotas que abandonaram o curso o fizeram por causa do passado, afinal, não por causa do futuro. Derrotar a Banana em seu próprio palco vai ser muito difícil, talvez impossível. Karen precisa, e acredito que vai, fazer a amiga perceber o erro fundamental em seu julgamento, aquilo que a impede de crescer e seguir em frente, rumo ao futuro.


Vinicius Marino:

De fato, essa fantasia fora do tempo é o seu mundinho. Não há como vencê-la com seu próprio veneno. Se ela for derrotada, será pelo gogó.

Provavelmente teremos um momento meloso e Banana percebe que o legal mesmo é crescer. Talvez isto incorra no sofrimento de suas amigas, ou quiçá dela mesma.


Gato de Ulthar:

Estou verdadeiramente curioso por entender onde a Hikari se encaixa nisso tudo. Pelo que percebemos, é o primeiro ano que ela se transfere para ali, e isso por si só já modificou e muito a continuidade inalterada dos eventos arquitetada pela Banana.

O curioso é que a Hikari não parece ser uma vingadora temporal, ou alguém que tenha se dado conta da tirania arquitetada pela Banana, na verdade ela parece ser a que menos sabe das coisas :stuck_out_tongue:

Pode ser que essa transferência seja um jeito do próprio universo consertar esse distúrbio temporal.

Só viajando um pouco, vocês já pararam para pensar que talvez a Banana não esteja voltando no tempo? Pode ser que cada retorno que ela faz um universo diferente esteja sendo criado? :stuck_out_tongue: Sei que isso é muito Madoka, mas se encaixaria mais em um viés quântico.


Diego:

A Hikari é um completo enigma, sobretudo se pensarmos que ela apareceu ao final do looping anterior. Dito isso, o fato de que ela aparece justamente onde estava a Girafa pode ser um indício de quem é o responsável por trazê-la ali. Se a Banana não está conseguindo entregar um espetáculo brilhante o suficiente para satisfazer a Girafa, é possível que ela tenha decidido agir de uma outra maneira. Ainda que isso levante a pergunta de por que logo a Hikari, que de fato não parece saber de muita coisa.


Fábio “Mexicano”:

Isso pode mudar o significado do que a Hikari quis dizer quando falou para a Karen que ser derrotada era perder o que tem de mais precioso, supondo que ela saiba de algo.


Vinicius Marino:

Bom, se a Banana realmente estiver criando realidades paralelas, como o Gato sugeriu, é capaz da Hikari ser uma anomalia. Afinal, nunca podemos prever completamente o caos.

Outra possibilidade é ela ser uma espécie de contra força que surgiu para pará-la.


Fábio “Mexicano”:

A Banana sempre vence, mas pode ter acontecido uma só coisa diferente dessa vez e a Hikari chegou bem no final. Ou a volta no tempo reseta tudo, incluindo todas as probabilidades. Se repetir bastante, vai ver coisas diferentes acontecer


Gato de Ulthar:

Ou será que a Hikari já ganhou uma audição, desejou o mesmo que a Banana, só que no meio do caminho a Banana acabou ganhando e pondo ela de escanteio e ambas acabaram desmemoriadas do que aconteceu.

Nem eu entendi o que eu quis dizer direito :stuck_out_tongue:


Diego:

A teoria de que pode ter havido um looping temporal anterior ao da Banana, mas protagonizado pela Hikari ou pela Kare, é uma que já vi pela internet afora, e que busca explicar o porque da Hikari ser tão contrário à Karen participar na Audição. Não sei se engulo a teoria, mas se alguém me falasse que Starlight daria uma de Madoka no meio da série eu também acharia difícil de acreditar :stuck_out_tongue:


Fábio “Mexicano”:

Uma de Madoka já deu. Dar uma de Madoka de Madoka é … bom, se quiserem terminar com uma história incompreensível, quem sou eu para dizer que eles não pode, né.


Diego:

Bom, vamos falar da peça um pouco? Acho que o episódio 7 nos trouxe a versão mais “completa” que tivemos de Starlight, a peça que as oito encenam. Acham que ela pode ser algum tipo de foreshadow do que está por vir?


Fábio “Mexicano”:

Tem muito a ver com a relação das protagonistas, não é? Fazem uma longa jornada juntas para no final terminar separadas. É o medo da Hikari, por isso não queria que a Karen participasse. Não cheguei a verificar também mas creio que os nomes das deusas possa ter relação com os nomes das audições. Um ou dois lá eu reparei que são iguais.


Vinicius Marino:

Não tenho dúvidas de que seja foreshadow. Nesse tipo de história, o melhor detalhe é significativo. Foreshadow do quê, exatamente, aí não saberia dizer. E acho que prefiro não proferir julgamentos por enquanto. Agora que Starlight apelou para o twist-Madoka, nada mais é sagrado :stuck_out_tongue_closed_eyes:


Gato de Ulthar:

O Fábio e Vinícius já resumiram bem as possibilidades de ser um foreshadow. No mais, espero me manter devidamente surpreso.


Diego:

Bom, ficamos na expectativa então. Por essa semana é só e vejo a todos na próxima. Até o/

E você, leitor, que achou deste episódio de Shoujo Kageki Revue Starlight? Sinta-se a vontade para descer um pouco mais a página e deixar um comentário com a sua opinião.

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