Um desabafo


Preguiça de procurar uma imagem bonitinha.


Vou ser bem franco: eu não sei se quero continuar com o blog.

Agora, se você me acompanha há já algum tempo, isso provavelmente não é nenhuma surpresa. Ano passado, quando do especial de 5 anos do blog, eu deixei claras muitas das minhas ansiedades para com ele, incluindo ai coisas como um processo criativo exaustivo, um certo nível de burnout para com animes, e mesmo o sentimento de falta de propósito para com o blog.

De lá pra cá muitos desses sentimentos só fizeram aumentar, e eu hoje me questiono com bastante frequência do porque de ainda estar aqui. A melhor resposta que eu consigo pensar sendo: porque eu cheguei até aqui. Seis anos produzindo artigos, e eu não quero sentir que tudo isso foi “em vão”.

Ao mesmo tempo, eu sei que isso é cair na falácia do custo irrecuperável. De que eu já investi tanto tempo nisso que me sinto obrigado a continuar. Ou, então, que esse impulso de continuar é mais por hábito do que por gosto de fato. O que, ok, é uma meia verdade.

Acho que comentei isso naquele meu especial de cinco anos, mas: eu não exatamente gosto de produzir textos. Gosto, sim, do resultado. Do projeto pronto, e do sentimento de orgulho por tê-lo terminado. Mas o processo em si, como já disse várias vezes em outros artigos, pode ser bastante cansativo. Sobretudo graças a um óbvio perfeccionismo de minha parte.

Rápido parênteses, eu sei que “perfeccionismo” é uma dessas palavras soltas que você usa quando precisa de um “defeito-que-não-é-um-defeito” na hora da entrevista de emprego, mas ele pode sim ser bastante debilitante. Me faz levar dias para escrever algo que eu provavelmente não deveria levar mais do que algumas horas…

Mas voltando ao assunto, é verdade também que eu não sei bem o que esperar do blog. Que tipo de retorno eu gostaria dele pra sentir que “vale a pena” continuar.

Financeiro eu já sei que não vai rolar. Já tentei monetizar blog e canal de múltiplas formas, sempre sem muito sucesso. O que, pra ser bastante franco, tem lá seu peso na minha consciência. Eu estou indo já para o meu terceiro ano desempregado, e é difícil não pensar que cada minuto que eu não estou enviando currículos é tempo desperdiçado.

Alcance é também algo que me incomoda. Para alguém que está aqui há seis anos eu sei bem o quanto sou inexpressivo. Um “bom dia” aqui no blog sendo um no qual ele passa das 150 visualizações. O que, vamos ser francos, não é muita coisa.

Ao mesmo tempo, eu me sinto mal de falar isso. Porque eu sei que, ao longo desses anos, eu cultivei uma pequena audiência de pessoas que realmente voltam pra ler quase todo novo texto. E eu muito aprecio isso, de verdade. Mas ainda assim…

E bom, é verdade também que a “era de ouro” dos blogs acabou já faz um bom tempo. Escrita não é mais valorizada. Ninguém mais tem tempo ou vontade de parar pra ler. O que faz sucesso hoje são vídeos e podcasts, coisas que podem servir de “ruído de fundo” enquanto você faz alguma outra coisa. Então da pra dizer que eu já comecei errando, a bem da verdade.

Mas eu não sei o quão melhor eu me sinto com o canal, pra ser sincero. É verdade que lá as visualizações são bem mais altas. Um vídeo meu de desempenho ruim ainda pega mais views em um dia do que todo o blog no mesmo período. Em compensação: produzir um vídeo é também bem mais difícil do que produzir um texto.

Eu sei que o conselho mais dado no mundo da produção de conteúdo é não começar isso querendo fama ou dinheiro, e esse é um bom conselho. Essas coisas são muito mais fruto da sorte do que realmente de esforço ou tempo investido. E é por isso que falam pra só fazer o que quer e o que gosta e não se preocupar muito com visualizações.

A isso, porém, eu digo: se fosse pra não ligar pra visualizações, eu escrevia meus textos e deixava eles salvos em alguma pasta no meu computador. Se me dou ao trabalho de publicar é meio óbvio que é porque eu quero ser lido. E depois de seis anos sentindo que não exatamente saí do lugar desde que tudo isso começou lá em idos de 2014… não sei, de verdade.

Por outro lado, eu sei também que o blog não é o problema.

Eu estou mentalmente exausto, e 2020 também não foi lá um bom ano pra minha saúde mental. Isso já vem tornando difícil de eu parar pra assistir anime, que dirá então para analisar e comentar o que vejo. É um esforço mental que eu não sei mais se ainda consigo exercer…

Quando eu comecei o blog eu estava ainda na faculdade. E parando pra pensar, muito do conteúdo que eu consumia na época – a vasta maioria vídeos no youtube – era conteúdo analítico de algum tipo. E foi esse contexto que me incentivou a criar um blog como este, onde o ponto era o de análises mais profundas de cunho mais temático de alguns dos animes que via.

Hoje, porém, a situação está bem diferente. Já terminei a faculdade, e como disse estou agora desempregado. Passo a maior parte do dia em casa, e o conteúdo que consumo se tornou também bem mais “vazio”. Geralmente perco horas do dia assistindo algum gameplay (quase sempre de Super Mario Maker), e raras são as vezes que vejo algo mais analítico.

O meu contexto não é intelectualmente estimulante, e eu não tenho mais a atenção ou a força de vontade para fazer com que ele seja. E isso se reflete no meu conteúdo – bom, ou na minha resistência a querer produzir conteúdo.

E enquanto eu poderia tentar fazer só uma pausa com o blog, eu sei também que isso não funciona, ou pelo menos não na longa duração. Eu já fiz, nos últimos meses, diversas pausas, as vezes de mais de um mês. E enquanto na hora até me dá vontade de escrever alguma coisa, uma vez que eu tento retomar o blog com alguma regularidade essa vontade desaparece.

Mas por ainda outro lado, tudo isso é também parte do porque eu gostaria de continuar. O blog, cansativo e estressante que seja, deve ser também talvez a única coisa mais estimulante que eu faço no dia. E eu sei que se eu parasse de vez com ele, meus dias se resumiriam a exatamente o que eu descrevi no parágrafo anterior: uma sequência de vídeos vazios no youtube.

Então eu estou meio que numa encruzilhada. Eu não quero produzir mais textos (ou vídeos) se isso significa um estresse durante a produção e uma decepção após a publicação. Mas, ao mesmo tempo, eu sei que o problema real é outro. Que é o meu contexto, e o estresse e a fadiga mental que ele me causa. O que me faz sentir que parar com o blog seria só me dobrar de vez a esse contexto.

Eu não sei o que eu quero, mas ao mesmo tempo eu sei que não é isso – o que quer que “isso” signifique. Então… é, eu não sei muito o que fazer ou pra onde ir.

Não devo parar agora, não sem terminar as análises de Aria the Animation. Mas quando isso terminar… eu não sei, de verdade. Acho que o mais provável é que nada mude, e eu continue postando mesmo com toda sorte de dúvidas e inseguranças. Mas eu não sei se devia.

Francamente eu só queria poder voltar ao estado mental que eu tinha lá em 2014. Mas não acho que vá rolar.

12 comentários sobre “Um desabafo

  1. Me identifiquei muito! Eu também tenho um blog desmonetizado e também uma página no Facebook, no caso sobre animes, já faz 2 anos que criei a página porém até hoje tenho apenas 616 curtidas, infelizmente cada dia mais conteúdo bem produzido está tendo menos destaque, principalmente quando o assunto é animes… A maioria só quer saber de memes e coisas vazias… O único jeito que eu achei para divulgar a minha página e consequentemente o Blog foi pagando para o Facebook através de anúncios, e até que vale a pena… É o único jeito de construir um público hoje em dia… Só ter grana que cresce do dia para noite… No caso do meu blog, só criei mesmo para criar conteúdo mais completo, coisas que não dá pra fazer no Facebook.

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  2. Putz, eu odeio ter que ler esses tipos de texto, porque além de eu considerar seu modo de escrita o melhor que já vi (e olha que já li muito blog, com este realmente tendo, em minha visão, as análises mais bem fundamentadas e mesmo sinceras que já vi) eu realmente acho que este blog, por pequeno público que possa ter, por mais que talvez não chegue em quem mais precisa chegar, é o melhor conteúdo escrito sobre animes do Brasil.

    E este desabafo me afeta também em um nível pessoal, porque também sou alguém que não está contente com a vida, que está desempregado, que tenta se motivar a escrever textos mais complexos e completos sobre um anime que a maioria acredita que não tem nada a se tirar dele, além de porradaria e explosões (Dragon Ball), e por ter um alcance bem pequeno se comparado aos canais e páginas gigantes que falam sobre DB, também me sinto desmotivado de ter um alcance tão pequeno e não atingir justamente quem mais precisa ler o que escrevo.

    Contudo, sinto também que, se parar, até o pouco que faço se tornará inútil, ou melhor, ficará perdido apenas dentro de minha mente. Então, aos trancos e barrancos, desde 2017, sigo me motivando a continuar produzindo. Já quis desistir várias vezes, penso em tentar no YouTube, onde o alcance é realmente maior, mas como você bem disse, produzir um vídeo não é nada fácil, sendo, na real, desgastante, quando você quer fazer algo legal, mas não tem como pagar para editarem bonitinho.

    Então, por estas semelhanças e por também acreditar

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  3. Então, por estas semelhanças e por também acreditar que seu nível de escrita está em outro nível, apesar de entender bem que não é fácil, só posso te aconselhar a continuar. Um pouco por vez, nos dias em que se sentir melhor, mas não desista, porque é aí que tudo vai pro buraco.

    頑張ってください!

    PS: Não sei o que raios apertei pra publicar a outra parte do comentário, então estou fazendo este para complementá-lo.

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  4. Fico triste por isso porque infelizmente parece que as mídias em geral são assim, nem sempre o que tem qualidade recebe reconhecimento.
    O cenário atual é direcionado apenas a vídeo e grandes veículos.
    Espero que você consiga definir o que é melhor para você.

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  5. O desgaste com animes é uma coisa que acabei passando uns anos atrás. Passei uns 2/3 anos sem ver nada. Se via, não pensava sobre. Consumia a obra mais como produto pra passar o tempo do que uma arte pra pensar. Em 2020 vi uns 20 animes, o que é pouco comparado com a minha era de ouro como otaku, mas é muito comparado aos últimos anos.

    O que estou tentando dizer é meio que o óbvio, mesmo. Tempo. O ânimo deve voltar com o tempo. Até lá, não sei. Uma dica (também óbvia) seria a de expandir o blog, comentar não só de animes, mas desenhos em geral. Ou criar blog paralelos para falar sobre livros, filmes, coisas assim.

    Mas, também… sei lá.

    Me espelho um pouco em ti nessa parte em que vc escreve que só tem visto conteúdos mais “vazios”. Esse ano alcancei um tipo de auge da preguiça. Não consigo nem fingir que sou produtivo. Só quero que o tempo passe, e uso o Vtuber e lives na twitch pra isso. Quero pensar que a pandemia criou uma ênfase nesse sentimento. Ao mesmo tempo me lembro que em 2017/18 eu nem buscava mais discutir arte na internet (coisa que antes era rotina), e que em 2019 debater arte virou ouvir sobre arte. Não pensava, só ouvia. E aí, em 2020, parei de ouvir.

    Uns anos atrás passei a enxergar blogs como um local cult dentro da internet. Não sei se já teve o sentimento de ver algo desconhecido e sentir que esse algo é especial por ser desconhecido. Um sentimento hipster, mesmo. Hipster e danoso, pois ao mesmo tempo que fico mal de ver que um conteúdo tão incrível quanto o seu não tem tanta visualização, também fico feliz. Ao mesmo tempo que quero falar do seu conteúdo, eu não o compartilho para todo mundo que conheço. É esquisito, eu me sentia esquisito. Hoje só não sinto assim pois não acompanho mais tanto esse mundo de blogs. A sensação que tenho é que essa cultura perdida ganhou seu charme por estar perdida, mas talvez esse charme não compense.

    Como meu comentário tem sido todo muito egoísta, vou acrescentar que eu (eu) gostaria que o blog continuasse. Mas também torço por ti, cara! Aprecio muito o que tu faz por aqui (e nos vídeos). Leve seu tempo, faça quantas pausa forem necessárias, não se obrigue a ser produtivo o tempo inteiro. Espero que fique bem! e que encontre esse seu propósito para com o blog (encontre o que você busca com ele e tal).

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  6. Tenho a impressão que você está agindo impelido pela pressão de ter o blog e ser de alguma forma produtivo. Pare tudo, homem! Seja improdutivo. Descanse. Tenha realismo: as poucas pessoas que vêm ao teu blog, vêm porque gostam dos seus textos, e não porque é uma fábrica de conteúdo que regularmente publica algo. Esquece isso. No meu site não posto nada há mais de um ano, e não me obrigo a tanto, primeiro porque meus textos não são bons o suficiente para tomar o tempo das pessoas, segundo porque se for escrever algo, deve ser algo caro para mim e que valha o tempo das pessoas (de novo a questão do perfeccionismo…). Mas assim, acho que você devia seguir as coisas no seu próprio ritmo sem medo de ser improdutivo, e quando lhe surgir uma intuição autêntica que pense valer a pena extrair um texto, vá com tudo. Pessoalmente observo que o maior mal da internet é a vasta quantidade de conteúdo inútil que só contribui para abafar os realmente bons. Não publicar nada é, às vezes, até melhor, dando tempo de trabalhar em projetos mais ambiciosos. Continue com o blog. Continue com o canal. Mas publique de vez em quando, ao seu tempo. Sou suspeito para comentar já que também me considero perfeccionista, mas prefiro um carvão feito diamante após anos embaixo da terra que um carvão queimado pro churrasco de toda semana (e a gente sabe que ninguém consegue manter um churrasco semanalmente).

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  7. É triste ter que ler isso é se indentificar com seu estado, no meu caso trabalho mas sei que não vai me levar a lugar nenhum pequenos empregos. E os animes foram uma ótima válvula de escape num momento difícil e aquele amor que eu tinha por anime está se apagando com o tempo, assim como a vontade de procurar o melhor caminho

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  8. Entendo, camarada. Eu também tenho um blog, o Palavras Aleatórias (https://palavrasaleatorias09.blogspot.com/), mas o meu fala pouco de animes e mais de literatura, área em que sou formado; assim como o seu, também comecei o meu por volta de 2014 ou 2015, enquanto cursava Letras, e postava com muito mais frequência. Foi terminar a graduação e os posts começaram a diminuir, mas, pessoalmente, não sinto que foi perdido, nem que devo algo, pois tenho plena consciência, assim como você tem, que não ganho dinheiro com os textos (que também demoro para elaborar), que a era dos blogs passou e, pior, que quem lê geralmente prefere algo menor, não folhas e folhas de análise — exceto, é claro, quem, como nós, também gosta desse tipo de conteúdo.

    Junto desse seu espaço, encontrei um outro site de análises de anime chamado “Animehaus”, que existe desde 2002! Ofereci-me para ser um dos colaboradores, enviei alguns textos, mas os próprios donos, desde o ano passado, nem respondem nada. Havia escrito uma análise de “Beastars”, enviei, mas nada. Esse nosso tipo de espaço e conteúdo perde força a cada dia. Citei o “Animehaus” porque existe há dezoito anos, imagine o seu e o meu blog, que existem há seis. Entendo o cansaço, amigo.

    Enfim, como outros apontaram nos comentários, fique, na medida do possível, tranquilo, não tenha pressa para postar, seja aqui ou no canal. O seu trabalho é de qualidade e, por isso mesmo, exige esforço e dedicação. Faça-o quando estiver com vontade, mesmo que esta demore a aparecer. Sempre que houver um texto ou um vídeo novo, eu e outros estaremos aqui para acompanhar.

    Um abraço.

    (P.S.: Posso indicar dois livros que, talvez, você até já conheça? Lembrei deles ao ler o seu texto: “Sociedade do cansaço”, do Byung-Chul Han, e “O direito à preguiça”, do Paul Lafargue. Caso não os conheça e acabe procurando, espero que goste.)

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  9. Eu super entendo esse sentimento de não estar saindo do lugar, e olha que estou nisso há apenas dois anos.

    Todo esse papo de fazer por amor cai por terra quando você tem contas pra pagar e no fundo queria algum retorno financeiro. (Se você algumas dicas de monetização me dá um toque que talvez você possa tentar mais uma vez, e seja mais simples do que você pensa)

    Voltando nesse lance de escrever por amor, a gente escreve pra ser lido, senão essa jornada toda não faria sentido.

    Eu espero muito que você consiga encontrar forças pra continuar com o blog, muita gente ama o seu conteúdo e você faria muita falta se parasse de escrever sobre animês.

    Esse ano fodeu o mental de muita gente mais do que o normal, então se precisar de algo lembra que não tá sozinho. Estamos com você.

    E mais uma vez, acredito que posso te ajudar com a monetização se você se interessar, então me faça saber, quero muito te ajudar. Não é muito mas dá pra pelo menos sair do vermelho com o tamanho do seu blog.

    Um abraço e se cuida

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    • Sinceramente, acho que já tentei todos os métodos mais “convencionais” de monetização (e também todos os que não envolvem você injetar alguma grana de início, pq eu to liso kkkkkkk). Mas bom, suponho que não sou contra discutir o assunto também. Se quiser me passar umas dicas, acho que pode ou entrar em contato pela página no face ou então mandar uma mensagem no twitter, que no fim toda ajuda é bem vinda rsrs

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      • Perfeito Diego, por hoje eu já estou entregue ao sono depois de ficar escrevendo a postagem motivada pela sua reflexão do outro post, mas amanhã sem falta eu te mando uma mensagem. Você me conta o que você já tentou e eu te conto alguns métodos que eu conheço, acredito que o único problema é você estar um pouco preso com o wordpress.com, as vezes só um domínio personalizado já seja o suficiente pra dar um boom no blog, vou te contar sobre um amiga que fez isso. (vou te mandar o print do crescimento do blog)

        Quero muito que você continue com esse blog, então bora tentar dar uma motivada financeira pelo menos rs

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