Clique aqui para ouvir no Spotify
mecha (gênero)
Review – Flag (Anime)
Si vis pacem para bellum. Se quer a paz, prepara-te para a guerra. Um velho provérbio de um povo que construiu todo um império com guerras preventivas cujo propósito seria garantir a paz: os romanos. É uma frase que expressa uma profunda contradição humana: somos uma espécie marcadamente violenta, mas que ainda assim almeja pela paz, mesmo que a força. Ao mesmo tempo, ela é uma frase que deixa de lado uma triste verdade, sobretudo nos dias atuais: nem toda guerra visa a paz. Instrumento político, instrumento econômico, mesmo instrumento religioso: a guerra pode trazer benefícios o bastante a certas pessoas a tal ponto que ela pode se tornar um fim em si mesma. Anime não é muito bom em retratar guerras, muito menos as sutilezas que a engendram. Sim, a guerra já apareceu como cenário em incontáveis obras, mas quase sempre ela é apenas isso: cenário. Quando muito temos junto disso alguma mensagem sobre os horrores da guerra ou a tolice humana, uma mensagem que, sim, é sempre atual, mas cuja repetição já a tornou apenas mais um lugar-comum narrativo.
Flag foi lançado em 2006, no formato de uma série de 13 episódios para a internet. Uma obra original do estúdio Answer, com roteiro de Toru Nozaki e direção de Ryosuke Takahashi e Kazuo Terada. A história se passa no país fictício de Uddiyana, onde uma guerra civil entre duas facções religiosas já ocorre há algum tempo. Fotojornalista, Saeko Shirasu é enviada para cobrir o evento, e em um golpe de sorte tira uma foto que viria a se tornar um símbolo de paz e esperança para o povo de Uddiyana. Com a intervenção das Nações Unidas no país, um acordo de paz está para ser assinado, mas eis então que a bandeira que aparece na foto de Shirasu, e que se tornou ela mesma um símbolo de paz, é roubada por um grupo terrorista extremista. Uma equipe é então montada para ir atrás da bandeira, e as Nações Unidas querem que Shirasu documente todo o evento com sua câmera. Como sempre, não há muito mais que eu possa dizer sem entrar em spoilers, então considere esse o seu aviso. Esse é um anime que realmente vale a pena assistir, e se ainda não o fez fica aqui a minha recomendação.
Uma Breve Análise – Neon Genesis Evangelion: Uma História Otimista
Shinseiki no Evangelion (ou Neon Genesis Evangelion), é facilmente uma das mais importantes franquias da animação japonesa. Gostemos ou não do anime enquanto obra, fato é que o seu impacto na mídia não pode ser subestimado. Infelizmente, o que também não pode ser subestimado é o quão horrivelmente mal compreendida a obra foi. Não é nenhum segredo que Hideaki Anno, diretor do anime, pretendia que o mesmo fosse uma forte crítica ao otaku recluso da época, mas a quantia de dakimakura da Ayanami Rey ainda hoje a venda mostra que a capacidade interpretativa dos otakus japoneses não está muito mais longe que a do brasileiro médio.
Mas meu cinismo de lado, sobre o que é Neon Genesis Evangelion? Para os poucos que talvez nunca tenham ouvido falar nesse anime, uma produção original do estúdio GAINAX de 1995, a história começa quando Ikari Shinji é chamado por seu pai, Gendou, para as instalações da NERV. O foco da agência é o combate aos Angels, misteriosos seres imensos que começaram a aparecer no Japão, e para ajudar nessa luta Shinji precisará pilotar o gigantesco robô conhecido como Evangelion (ou EVA, para encurtar).
Acontece que longe de ser uma trama inocente sobre salvar o mundo, o anime acaba por trabalhar muito mais a psique dos seus personagens e o quão horrivelmente perturbados são todos eles (menos o pinguim, aparentemente). Justamente por conta disso, a obra foi – e ainda é – bastante recebida como uma história altamente cínica e depressiva, mas eu não acho que tal descrição realmente a faz justiça. Deixo aqui o aviso de spoilers, e vamos então conversar porque eu vejo Neon Genesis Evangelion como uma história, essencialmente, otimista.