
De monstros a animais
Eu não sei se o leitor já parou pra pensar, mas: animes e mangás sobre dinossauros são uma tremenda raridade. Digo, tente você listar quantos conhece e chuto que começou e parou em Dinossauro Rei (Kodai Ouja Kyouryuu King, 2007-2008).
Uns poucos talvez se lembrem também do mangá de Masashi Tanaka Gon (1992-2002), publicado no Brasil primeiro pela editora Conrad e, mais recentemente, pela editora Newpop. Mas mesmo esse não é bem sobre dinossauros, no plural, posto que o único que vemos é o seu tiranossauro protagonista.
E enquanto outros títulos até existem, fato é que animes e mangás parecem nunca ter tido o seu “boom jurássico”. Daí a minha surpresa ao descobrir Dinosaur Sanctuary.

“Esse é o negócio sobre os dinossauros. Eles podem ser grandes… Mas também ficam nervosos e assustados. Às vezes ficam doentes ou se machucam.”
Dinosaur Sanctuary, vol 1
Mangá de Itaru Kinoshita, Dinosan (2021-) se passa em uma realidade alternativa onde dinossauros nunca foram extintos… bom, ou quase. Na verdade, em 1946 alguns dinossauros teriam sido descobertos em uma ilha desabitada próxima à Indonésia, dando início a um verdadeiro “dino boom”.
Através da criação e reprodução seletiva, além de manipulação genética, múltiplas espécies de dinossauros foram trazidas de volta, com zoológicos abrindo ao redor do mundo para preservar e expor esses animais.
Nossa protagonista é Suzume Suma, uma cuidadora de dinossauros iniciante que começa a trabalhar em Enoshima Dinoland – o titular “santuário” (vulgo, reserva ou zoológico) de dinossauros. E um bem caído, diga-se de passagem, enfrentando toda sorte de apertos financeiros agora que a febre dos dinos há muito passou.
O mangá é publicado nos Estados Unidos pela editora Seven Seas, que foi como eu tive contato com ele. E enquanto eu normalmente não escrevo sobre obras em andamento, o primeiro volume já me deu bastante sobre o que pensar.

“‘Dinossauros são fortes.’ ‘Dinossauros são assustadores.’ Essa é a imagem que as pessoas têm. Então é claro que ninguém vê a verdade.”
Dinosaur Sanctuary, vol 1
Quando paramos para pensar na forma como dinossauros costumam ser retratados, a tendência é a de tê-los como monstros. Criaturas imensas, predadores sanguinários, talvez até altivos e majestosos, mas sempre perigosos. Fascinantes, sim, mas à distância. Afinal, quem em sã consciência ia querer chegar perto de um tiranossauro?!
E não, essa não é uma visão criada por Jurassic Park, seja o livro de Michael Crichton ou o filme de Steven Spielberg. Tal tradição já vinha de longa data, e a vemos reproduzida mesmo em documentários no tema, guardadas as devidas proporções (como eu disse: altivos e majestosos, sim, mas ainda perigosos).
A abordagem de Dinosaur Sanctuary, porém, não poderia ser mais diferente. Sim, dinossauros são grandes. São fortes. São perigosos. 15 anos antes do início da história, um acidente fatal em um desses “santuários” foi o que trouxe o fim da febre de dinossauros pelo mundo. Mas sabe o que mais os dinossauros são? Animais.
Yuki, uma giganotossaurus, foi criada em cativeiro, e se afeiçoou ao seu cuidador. Niko e Vena são um casal de troodons que estão para ter sua ninhada. Masaru é um triceratops com frequentes problemas de constipação e que adora maçãs. Ah, e por pouco o dilophosaurus Roy não tem a vida encurtada por um caso de falência renal.

“Conforme os anos passam, os dinossauros envelhecem e enfraquecem, assim como todos nós. Eles são criaturas vivas, por isso são tão fascinantes.”
Dinosaur Sanctuary, vol 1
Esses são os dinossauros que conhecemos no primeiro volume da série, e só por essa minha breve descrição já dá pra ter uma ideia do quão única é a abordagem de Dinosaur Sanctuary. Digo, não são muitas as obras que me fizeram pensar que dinossauros podem ser “fofos”, mas cá estamos.
Sabe quando um leão ou tigre de algum zoológico viraliza nas redes sociais por agir quase como um gato doméstico? Momentos assim nos fazem lembrar que essas criaturas são mais complexas do que a imagem que criamos para elas de “rei das selvas”. Que são seres vivos, capazes de sentir preguiça, satisfação, e por aí vai.
Dinosaur Sanctuary aplica essa mesma lógica aos dinossauros. E, ao fazê-lo, desmistifica muitos dos nossos preconceitos sobre essas criaturas. Nos aproximando delas muito como a sua protagonista quer aproximar humanos e dinossauros.

—
Nossas Redes Sociais:
—
Imagem de capa:
Dinosaur Sanctuary, vol 1
Gostei bastante da análise. Esse ponto de que os dinossauros tem mais facetas do que o habitual…monstro, medonho e temível que geralmente se vê em filmes e séries. Faz pensar, por mais que se tenha animais perigosos no nosso mundo, vê uma faceta deles encantadores, faz nos maravilhar o quanto eles podem ser “fofos” e não da tanto medo assim.
E eu não conhecia ainda esse mangá😅 e esse retrato dos dinossauros de uma forma diferente do costumeiro me parece ser interessante de se ler o mangá🥰
CurtirCurtido por 1 pessoa