Uma Rápida Review – Kanashimi no Belladonna


Pura psicodelia sexual.


Aviso: O filme em questão contém cenas fortes de violência sexual, sendo indicado para maiores de 18 anos. O filme também possui cenas de cores fortes piscando na tela, podendo induzir à epilepsia fotossensível.

Para falar de Kanashimi no Belladonna (ou Belladonna of Sadness), mesmo que apenas de forma introdutória, é preciso falar sobre a sua produção.

O filme em questão é o terceiro da série animerama, com os outros dois sendo Senya Ichiya Monogatari (1969) e Cleopatra (1970). Não há, porém, uma continuidade narrativa entre as obras, mas sim uma temática. A trilogia foi criada por Osamu Tezuka, levada a cabo pelo seu estúdio Mushi Production, e se propunha a ser uma série de filmes em animação voltados para adultos – de onde temos o alto conteúdo sexual aqui presente.

Tezuka esteve envolvido nos dois primeiros filmes, mas deixou o estúdio quando o terceiro ainda estava em seus estágios iniciais, o que talvez explique porque Kanashimi no Belladonna é apontado como consideravelmente mais sério em tom do que seus dois predecessores.

Dirigido por Eiichi Yamamoto, o filme foi inspirado pelo livro de Jules Michelet La Sorcière (Satanism and Witchraft, na tradução americana do título), de 1862, livro de não-ficção sobre a história da bruxaria, tida por Michelet como um ato de rebeldia contra o sistema feudal em voga durante a Idade Média.

Experimental, com um estilo artístico que não se vê com frequência, Kanashimi no Belladonna é composto quase que exclusivamente de imagens estáticas, com apenas a câmera se movendo. Há, porém, algumas poucas sequências efetivamente animadas, e a alta fluidez de movimento nestas parece indicar que as imagens estáticas foram uma decisão artística, não uma limitação do estúdio.

Talvez justamente para compensar a (falta de) animação, a trilha sonora se faz bastante presente aqui, e diria mesmo que é a melhor parte do filme. Diversas músicas são integradas ao filme, dando-lhe um ar de musical que, francamente, eu não esperava encontrar em um filme para adultos com uma história assim tão pesada.

E ai temos a história – que, o leitor já deve ter notado, eu evitei de abordar até agora. Em um tempo não especificado, num lugar não especificado, Jean e Jeanne acabam de se casar. Um momento feliz, mas eis que o filme nos lembra que esse é o começo da história. Incapaz de pagar o tributo pelo casamento pedido pelo senhor feudal local, Jeanne é estuprada por ele e pelos demais nobres como compensação: e daqui é só ladeira abaixo.

Ao voltar para casa, Jeanne se joga, em prantos, nos braços de seu marido, apenas para este, num ato de desespero, tentar estrangulá-la. Ao perceber o que fazia, ele a solta e foge. Nisso temos um rápido time skip, simbolizado aqui pela roda de fiar tecido, e vemos que Jean está seriamente doente. Eis então que o diabo aparece para Jeanne, lhe oferecendo um acordo. Jeanne aceita, entregando a alma em troca da saúde e prosperidade do marido.

Eu não vou me estender na trama, mas vou apontar o que já disse: daqui é só ladeira abaixo. Um acordo com o demônio nunca termina bem para quem faz o acordo. O que faz de Kanashimi no Belladonna um filme sobre um mundo horrível onde pessoas horríveis fazem coisas horríveis, com aquela tida como a mais pura sendo manchada por aquele mundo até o ponto do não retorno.

O problema é que desgraça após desgraça nos anestesia. Quando tudo que o filme mostra é dor e sofrimento, essa mesma dor e sofrimento perde muito do seu poder de choque. Causa uma reação no começo, mas se torna apenas lugar comum pelo final. O que, aliás, eu bem poderia dizer da arte e animação, chocante em sua psicodelia, mas apenas na primeira meia hora. Francamente: é um filme que cansa bem rápido.

Me incomoda também a – praticamente literal – demonização do sexo que a obra faz. Todo ato sexual aqui é violento, uma forma de corromper mais e mais a protagonista, isso sem mencionar o diabo de forma fálica. Eu entendo que seja um filme japonês, de 1973 ainda por cima, mas isso apenas significa que a abordagem que o filme traz desse assunto é uma que envelheceu bem mal.

O lado fantástico é ainda outro problema. O horror da caça às bruxas vem muito da inutilidade da coisa toda, do fato de mulheres terem sido perseguidas e mortas por puro medo e paranoia. Que Jeanne fosse de fato uma bruxa, tendo literalmente feito um pacto com o demônio, que existe concretamente naquele mundo, chega quase a ser uma validação dessa mesma caça às bruxas. Sim, o filme nos mostra como a Jeanne chegou àquele ponto, pondo a culpa muito mais em suas circunstâncias do que nela mesma, mas segue o fato de que ela é uma bruxa com pacto com o demônio!

Recomendaria o filme? Não realmente. Talvez se você procura por algo visualmente distinto, o que Kanashimi no Belladonna é, mas para qualquer coisa além disso seria melhor procurar em outro lugar.

Ficha Técnica:

Título: Kanashimi no Belladonna
Ano: 1973
Estúdio: Mushi Production
Adaptação de: —
Direção: Eiichi Yamamoto

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Um comentário sobre “Uma Rápida Review – Kanashimi no Belladonna

  1. Realmente Belladonna cansa. Lembro que quando assisti fiz uma pausa de um dia pra voltar a ver de novo. Ainda assim, acho que pela sua distinção visual seria algo que recomendaria para qualquer pessoa.
    Esse filme de 69 aí não assisti, mas o Cleópatra sim, e achei ele muito bom. Curti o viés cômico e satírico dele. Ao menos não é pretensioso quanto Belladonna. Slá, acho que Ad Police tece comentários feministas com uma narrativa mais aceitável que Belladonna.

    Curtido por 1 pessoa

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