
(Esta análise foi originalmente publicada na página do blog no facebook)
Uma das coisas que eu mais gosto em Ghost In The Shell, e isso eu falo tanto para o filme de 1995, como para o anime de 2002, é que ele nunca é futurista “demais”. Ok, vamos explicar isso melhor.
Um dos problemas que eu tenho com a ficção científica é como, algumas vezes, encontramos mundo futuristas onde o passado parece simplesmente… Superado. Esquecido. Abandonado. Só que não é assim que as coisas funcionam. A invenção de novas tecnologias não implica necessariamente o abandono das antigas. Basta ver, por exemplo, que os livros não desapareceram com a invenção do iPad.
E mesmo que, de fato, a nova tecnologia se torne dominante, sempre haverá aqueles que, por um motivo ou outro, ainda se atrelam às antigas. Talvez porque não tenham a verba necessária para comprar a nova. Talvez por uma questão religiosa, ou mesmo política. Ou talvez porque simplesmente preferem a antiga, vide todos os fãs modernos do formato LP.
Em Ghost In The Shell, Togusa é, para todos os efeitos, um bom exemplo disso, se apegando à sua arma mais antiga enquanto todos da Seção 9 usam um equipamento claramente mais moderno.
Mas ele é, também, apenas um dos exemplos possíveis, e em fato seria possível dizer que a ideia de encontro entre o novo e o antigo é, talvez, uma das mais proeminentes em Ghost In The Shell, agora falando especificamente do filme. E em nenhum momento isso fica mais claro do que na cena a cerca de um terço do filme, quando temos a Major em um barco, atravessando um canal que passa pelo meio de uma cidade.

Nessa cena, o contraste entre o novo e o antigo é, talvez, o mais explícito, o que é natural quando você pensa que a cidade do filme é baseada na Xangai da época. Afinal, cidades grandes, especialmente megalópoles de milhões de habitantes, são espaços de convergências: culturais, sim, mas também temporais. Espaços no qual o passado e o presente habitam talvez não em harmonia, mas no mínimo em coexistência.
A verdade é que nosso mundo moderno é moderno apenas em parte. Enquanto tecnologias novas são inventadas, comercializadas ou popularizadas o tempo todo, também tecnologias antigas seguem presentes. Invenções e aparatos úteis há décadas, séculos ou milênios seguindo ainda úteis hoje, tanto quanto ou até mais do que no passado: e a roda está ai para provar. E não só tecnologias: instituições, crenças, ideologias…
A existência de hologramas não implicaria o fim de televisores, monitores, ou qualquer tela que for. A existência de contato por vídeo-chamada não eliminaria a existência dos telefones tradicionais. E a existência de publicações digitais certamente não eliminou a existência do papel. E Ghost In The Shell reconhece isso: o fato de que o passado, para todos os efeitos, é sempre presente.
Claro, isso não é dizer que você não possa ter um mundo onde essas mudanças efetivamente aconteceram, e onde uma nova tecnologia fez completamente desaparecer as antigas. Mas considerando que ainda hoje há quem prefira andar a cavalos ou escrever em uma máquina de escrever, eu vou dizer que o motivo dessa tecnologia antiga ter desaparecido precisaria ser muito melhor explicado do que tão somente pela introdução de uma nova.
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Imagens: Ghost In The Shell (Filme)