
(Esta análise foi originalmente publicada na página do blog no facebook)
Quer você tenha assistido Gatchaman Crowds ou não, não é difícil notar o quão colorido é o anime. Algo que, aliás, já vemos desde o pôster de divulgação do anime.
Gatchaman Crowds é, para todos os efeitos, uma re-imaginação (talvez mesmo uma re-conceitualização) da série Kagaku Ninjatai Gatchaman, dos anos 1970, que nessa encarnação de 2013 mostra um grupo de heróis cuja missão é proteger a Terra de ameaças alienígenas. O grupo é inicialmente composto por 5 pessoas, e a sexta escolhida, Ichinose Hajime, é a protagonista da história, recém-chegada ao meio e que terá de aprender o trabalho destes heróis.
Agora, apesar dessa premissa básica, o roteiro fica muito, muito mais complicado do que apenas isso, sobretudo com a introdução de Ninomia Rui e o sistema Galax, uma mescla de jogo virtual e rede social que vem conectando as pessoas e permitindo que elas se ajudem. O objetivo de Rui sendo, afinal, a confecção de um mundo sem heróis, onde as pessoas possam andar com as próprias pernas.
E o que a princípio parecia uma história clichê, logo se revela um amalgama de debates, questionamentos e provocações, tocando em temas que vão do conceito e necessidade da figura do Herói, até algo como a revolução armada contra um governo visto como incompetente. E onde entram as cores vibrantes aqui? Bom…
Em parte, as cores certamente servem para dar o tom do anime. No final, Gatchaman Crowds é uma obra essencialmente esperançosa, otimista, com relação às pessoas e à sociedade. Maior exemplo disso sendo a própria Hajime, uma personagem que sempre tenta ver o melhor nas pessoas (sem, porém, ser ingênua ou manipulável, muito pelo contrário).

Mas onde as cores de fato se destacam é num tema que, enquanto nunca abertamente falado, fica implícito ao longo de quase todo o anime: a ideia de colagem, um hobby, aliás, do qual vemos que a Hajime é bastante interessada. E o que é a colagem se não a combinação de uma miríade de cores, vindas de diferentes papeis e materiais, que juntas conformam uma composição harmônica?
Nesse sentido, o próprio grupo Gatchaman é uma “colagem”, uma combinação de elementos díspares que gera um resultado harmônico, permitindo que ajam como os heróis que são. O mesmo, aliás, pode ser dito à internet, aproximando as pessoas em uma colagem que, como o sistema Galax tenta provar, podem se ajudar mutuamente. E claro, a própria sociedade pode ser vista nestes termos (eu disse que era um anime otimista).
Agora, eu escrevo este texto porque tenho visto surgir, sobretudo em discussões internet afora, uma espécie de dicotomia entre cor e seriedade. Obras com uma paleta de cores mais variada são vistas como “infantis” e “cômicas”, ao passo que obras com uma paleta de cores mais escura, mais “dark”, são vistas como “maduras” e “sérias”. E eu acho que Gatchaman Crowds é um bom contra-argumento a essa lógica.
Gatchaman Crowds é um anime bastante maduro, e também bastante provocativo. Não a toa o inclui em minha lista de animes que fazem o espectador pensar e refletir. E isso não a despeito da sua paleta de cores, mas também por conta dela. Por saber usar de cores que bem passam as mensagens, ideias e ideologias que o anime tenta passar.
Não há nada de imaturo aqui, muito pelo contrário, o que também me remete ao meu argumento de que uma obra não precisa ser “dark” e “pesada” para ser madura.
Então da próxima vez que estiver vendo um anime, observe a sua paleta de cores. E, seja ela qual for, tente se perguntar porque o anime escolheu as cores que escolheu. Enquanto em muitos momentos a razão possivelmente será, de fato, apenas para dar o tom da série, em outros momentos pode haver uma razão bem mais profunda do que isso.
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Imagens: Gatchaman Crowds, episódio 1
Parabéns pelo texto, muito bom.
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